Texto escrito por Henrique Pires Teixeira, ex-diretor do jornal “A Comarca” e ex-presidente da CCPJ.
Os árabes sentenciam numa máxima que “ao morrer, a pantera larga a pele e o homem a reputação” – o que é apropriado ter presente num momento em que se homenageia o Dr. Francisco Pinto Balsemão.
Já quase tudo se escreveu sobre si, numa coincidência de apreciações relevando as qualidades icónicas de um espírito livre, estruturalmente democrático, genuíno empresário da comunicação social e jornalista por vocação.
Mas não é redundante recordá-lo também neste espaço da Associação Portuguesa de Imprensa que foi a sua casa, porque a fundou (à data como AIND – Associação de Imprensa Não Diária) e a que quase sempre presidiu através da Sojornal, primeiro, e da Impresa, depois, configurada como trincheira institucional e agregadora na defesa dos interesses de toda a imprensa, mas em especial da imprensa regional, que acarinhava por representar o pulsar do país real.
Integrei a única direção que não foi presidida pela então Sojornal, num intervalo diretivo atípico que sobreveio, não por divergência com o Dr. Francisco Balsemão e com a sua intocável referência, mas com a presidência do elenco que então escolhera para dirigir a AIND. Todavia, nem por isso abandonou a associação ou deixou de dar o seu contributo financeiro enquanto associado – o que mais uma vez comprovou o seu espírito democrático e tolerante.
O Dr. Francisco Balsemão foi o único empresário dos grandes grupos de imprensa que nasceu e viveu no setor de forma autêntica e exclusiva, que conhecia todas as suas dimensões e entrosamentos, que esteve na origem das mais diversas instituições confluentes, a cada passo visando a preservação e valorização da comunicação social, em geral, e da imprensa em particular – e isto diferentemente de outros que simplesmente poisaram no setor tendo a mira apontada à afirmação pessoal e/ou à influência política, económica ou de outro cariz.
E importa ressaltar que o seu papel enquanto empresário nunca colidiu minimamente com as exigências da atividade jornalística, mormente com a independência dos jornalistas, um dos irremovíveis pilares da profissão.
Na cerimónia de encerramento do 4.º Congresso dos Jornalistas (2017), fiz questão de sublinhar, enquanto então presidente da CCPJ – Comissão da Carteira Profissional de Jornalista, o respeito escrupuloso do Dr. Francisco Balsemão face à liberdade de expressão e independência dos jornalistas, nunca opondo quaisquer adversativas ou condicionantes ao seu exercício. Isso era sabido, mas nunca suficientemente valorizado. Por isso prestei tal tributo com convicção para que servisse de exemplo – quando pairavam e pairam nuvens de interferência sopradas pelos ventos da precariedade.
No final veio agradecer-me não só a alusão como acima de tudo pelo momento e local em que foi feita, naquele universo – o que é revelador do foco que dava aos jornalistas e ao jornalismo.
O Dr. Francisco Balsemão conhecia bem, como todos quantos estão ou estiveram ligados à direção de autênticos projetos jornalísticos, as picas e as agruras da imprensa. Daí a sua paixão; daí que fosse um dos nossos.
Ergueu um conglomerado de comunicação social para lhe sobreviver. Mas fê-lo igualmente em prol dos seus concidadãos e da liberdade de imprensa.
O Dr. Francisco Pinto Balsemão partiu mas as máquinas não pararão.
Como alguém escreveu, a memória é o espelho dos ausentes. É o que nos sobra da sua personalidade e ímpeto – além da excecional reputação.
